segunda-feira, 3 de março de 2014

Módulo Básico #1: Explanação sistemática dos raios X, tomografia computadorizada, ressonância magnética e ultrassonografia

É comum que os mais iniciantes e até alguns intermediários fiquem confusos com certos ramos da radiologia. No primeiro post do módulo básico teremos uma explanação sistemática dos principais métodos de imagem que conhecemos. Alguns conceitos mais detalhados e que requerem uma análise minuciosa serão colocados no blog posteriormente.

Obs: Como a próxima postagem provavelmente será uma videoaula, existe a possibilidade da mesma demorar um pouco para ir ao ar e eu linkar a mesma aqui, via youtube.

Boa leitura!

Raios X

Como já mencionado no post de nomenclatura e introdução a radiologia, os raios X possuem a nomenclatura de radiopaco e radiotransparente. Possuindo diferentes tons de cinza para caracterizar as lesões, sabemos também que a ordem de opacidade de uma forma crescente é: Pulmões, gordura, partes moles e osso. Relembrando esses conceitos básicos podemos falar mais sobre o tema sem demais complicações.

Quais as vantagens e desvantagens dos raios x ou seja, da radiologia convencional?

Inicialmente podemos citar como vantagem a praticidade do raio x, o custo, que, comparado com alguns outros métodos de imagem, é mais barato e até mesmo o tamanho do aparelho, que quando comparado a uma máquina de ressonância ou de tomografia esboça um tamanho bem menor.

As desvantagens são grandes também, mas, SEM DÚVIDA ALGUMA, a principal desvantagem desse método de aquisição de imagens é a sobreposição de imagens. Marcelo, o que é sobreposição de imagens? sobreposição de imagens nada mais é do que eu não conseguir distinguir com clareza quem está anteriormente ou posteriormente. Obviamente se obtivermos um conhecimento básico de anatomia poderemos até mesmo driblar essa pedra no sapato ao utilizarmos alguns macetes radiológicos como o sinal da silhueta, mas não estudaremos ele agora. Outra desvantagem é que não é recomendado o uso do raio x para gestantes e são poucos os tons de cinza para caracterizar as estruturas anatômicas.

Marcelo, ainda não entendi a sobreposição de imagens (ou estruturas). Observe a imagem abaixo:


No interior do círculo vermelho temos uma lesão radiopaca. Mas, você, iniciante, poderia dizer em qual dos lobos pulmonares essa lesão se encontra? Não ne... Pois é. Isso se chama sobreposição de imagens. Não só isso mas ao observarmos o coração, a coluna vertebral, a aorta, enfim, as estruturas torácicas, você, caso não tenha o mínimo de anatomia básica não saberia dizer quem está na anteriormente ou posteriormente ao que. De formas que para compensar essa desvantagem de sobreposição de imagens, pode-se pedir mais de uma incidência para o exame, como, por exemplo, uma radiografia de perfil, como a imagem abaixo demonstra:

A lesão dessa figura acima é a mesma da primeira figura que eu havia mencionado acima e desafiado os iniciantes a dizer qual lobo pertencia aquela lesão. Essas incidências ficam mais perceptíveis para os estudantes nas radiografias de tórax, porém, podemos utilizar outras incidências para outras regiões do corpo.

OBS: Um princípio radiológico IMPORTANTÍSSIMO é o princípio da contralateralidade. Ou seja, se você visualiza uma lesão do lado direito, no corpo do paciente, ela encontra-se no lado oposto. Como é Marcelo? Agora embaralhou tudo. Se explique homem! Calma... Eu vou explicar. Vamos, para efeito didático, utilizar a mesma imagem que eu coloquei acima:


Observe quando vemos a lesão radiopaca, a vemos no exame do lado esquerdo. Então é natural pensar, essa lesão está no pulmão esquerdo do paciente, ne? ERRADO. Está no pulmão direito. É isso que eu quero dizer com princípio da contralateralidade. Na verdade esse princípio nada mais é do que um raciocínio lógico ao posicionarmos o paciente para realizar o exame. Não só nos raios X, mas na radiologia como um geral.

O filme radiográfico é colocado em um chassi, que é posicionado de acordo com o paciente e a técnica a ser empregada. O filme radiológico possui átomos fotossensíveis que ao serem expostos ao raio x ficam sensibilizados e a imagem poderá ser gerada e posteriormente adquirida.
Chassis
Filme Radiográfico (que devem ficar dentro do chassi)


Aparelho de Raio X


Tomografia Computadorizada

A TC possui como veículo produtor de imagens ou de aquisição de imagens, os raios X. Porém, as vantagens principais da TC em relação aos raios X convencionais é que a TC permite a realização de cortes axiais e transversos, bem como esses cortes podem ser remontados em computador (tomografia COMPUTADORIZADA) para termos outros planos de avaliação da imagem. Além do mais, temos uma resolução de imagem bem superior, afinal de contas, aqui contamos com 250 tons de cinza. Podemos, ainda, comparar a TC com a RM. No caso, a tomografia é mais rápida para adquirir imagens do que a ressonância, porém, utiliza radiação, sendo esse, um ponto extremamente negativo, além do que, quando comparado com a ressonância, existe um grau de definição melhor na ressonância. Obvio, essa regra possui algumas exceções, como o tórax. O tomógrafo emite raios X que praticamente fazem cortes em torno do paciente, girando, em que sensores posicionados na máquina captam esses dados e transferem para o computador.

Tomógrafo

Cortes adquiridos por TC
Funcionamento básico de um tomógrafo

No caso, ainda falando da tomografia, possuímos JANELAS para avaliação de imagens. Como já mencionadas na postagem de introdução, temos janelas de partes moles, óssea, mediastinal e pulmonar. Cada uma com suas respectivas avaliações que serão descritas em outras postagens. De maneira geral, observe as quatro imagens abaixo:

Janela Óssea

Janela de Partes Moles

Janela mediastinal (à esquerda) e Janela pulmonar (à direita)

Observem que cada uma dessas janelas isolam uma área determinada a ser estudada.

Ressonância Magnética

Como o nome sugere, a ressonância magnética tem como princípio de aquisição de imagens o magnetismo. Utilizamos o íon hidrogênio (por ser o mais abundante em nosso corpo) e através de energia entre níveis energéticos dos spins desse íon podemos adquirir imagens radiológicas. Resumidamente temos uma estrutura a ser observada, que é submetida a estímulos magnéticos e emite uma resposta a esse estímulo. Lembra do TR e TE? que tal compreendê-los melhor agora?

TR (Tempo de repetição) - Como o nome sugere, é o intervalo entre pulsos excitatórios sucessivos no tecido.

TE (Tempo de eco) - Novamente, como o nome já nos sugere, é o intervalo entre o pulso excitatório e amplitude máxima desse sinal na RM, ou, em outras palavras, o tempo decorrido entre os pulsos excitatórios em que o pico dos spins de hidrogênio é recebido pelo aparelho.



Precisamos de tempos de repetição adequados e com certa frequência para podermos captar e adquirir melhores imagens. Mas Marcelo, eu lembro que você me disse que as ponderações surgem a partir desses tempos. Como saber o que é um TR curto ou longo e como saber o que é um TE curto ou longo? Geralmente temos um TR curto quando o mesmo varia de 300-600 ms e um TR longo quando está, em média, acima de 2000 ms. Já o TE encontra-se curto quando está de 10 a 25ms e longo quando encontra-se acima de 60. Imagens em T1 fornecem mais detalhes ANATÔMICOS e as ponderações em T2 são melhores para detectar lesão em virtude dos sinais de intensidade que ambas as ponderações apresentam frente a eventos patológicos. Por que? Porque ao lembrarmos de patologia básica, reações inflamatórias cursam com quatro eventos: Dor, Calor, Rubor e EDEMA. A água em T2 é hiperintensa. Entenderam agora onde queremos chegar? Processos patológicos, inflamatórios ou não, que cursem com edema, podem ser visualizados na ressonância magnética em T2.

Obs 1: A ressonância não consegue detectar de maneira clara e plena sinais emitidos por vasos de grande calibre, caso não haja contraste. São os chamados flowvoids.

Obs 2:  Como a gordura apresenta hiperssinal tanto em T1 quanto em T2 e o edema (um dos componentes da reação inflamatória) também, uma técnica que pode ser usada para que o radiologista não confunda determinada região com uma lesão é a chamada técnica de supressão de gordura. Nesse caso, temos a supressão de intensidade da gordura, deixando-a hipointensa.


As principais vantagens observadas na ressonância é o não uso da radiação (raios X), bem como é um exame que possui um leque de escolhas para aquisição de imagem muito grande. Mas em contrapartida, é bem mais cara que a TC, mais demorada e ocupa um espaço relativamente maior.

Ultrassonografia

O que nos chama atenção no quesito explanação sistemática são os efeitos sonoros que determinadas lesões ou patologias podem vir a gerar. As duas principais são a SOMBRA ACÚSTICA e o REFORÇO ACÚSTICO. 

Imagine que você é uma onda ultrassonora e vai viajar até a vesícula biliar. Certo, eu vou chegar lá na vesícula e a minha missão é gerar uma onda sonora, correto? correto. Porém, se por alguma eventualidade tivermos um obstáculo que faça com que você não consiga passar como um cálculo biliar. E aí? o que vai acontecer? 

Imagine que ocorre a mesma coisa com a luz. Temos uma fonte de luz vinda de uma lanterna, que está jogando raios luminosos e que por ventura você coloca um objeto na frente dessa lanterna. Vai se formar uma sombra, correto? é o mesmo princípio aqui. 

Quando o som bate em uma estrutura sólida como um cálculo (seja no rim ou na vesícula) ele tende a formar uma sombra acústica. O som não consegue passar adequadamente por ali. Ou seja a sombra acústica ocorre quando um feixo de ultrassons tem no meio do seu trajeto uma estrutura que é muito densa. Como o som não consegue passar adequadamente, forma-se uma zona hipoecóica (uma sombra) posteriormente ao obstáculo. 

Já o contrário é verdadeiro. O reforço acústico ocorre quando a atenuação do ultra-som é menos intensa do que o esperado ou quando a área a ser estudada possui uma condução melhor para o som. Como isso é possível? Imaginemos que você é uma onda ultrassonora que vai até o ovário de uma paciente. Lá, temos um cisto simples de ovário. Muito provavelmente essa onda ultrassonora, no caso você, vai passar lá tranquilamente, com certa impedância, obvio, mas vai conseguir passar. O que ocorre se, do nada, você, uma onda ultrassonora, passando por uma região sólida ou semisólida dá de cara com um cisto simples? oras, o cisto é basicamente composto por líquido, então, já que o líquido favorece mais a passagem do som que o sólido, ocorre uma atenuação menos intensa que o esperado, ou seja, a onda passa melhor e mais rápido. Mas esse reforço acústico pode ser achado facilmente em uma bexiga cheia de água também, de formas que a água surge como um reforço acústico natural. Aqui, temos uma área hipoecóica e imediatamente atrás uma zona hiperecogênica

Observe a sombra acústica circulada em vermelho (vesícula biliar com um cálculo biliar)

Novamente, vesícula biliar com cálculo biliar (observar a sombra acústica circulada em vermelho)
Bexiga e reforço acústico (bladder = bexiga)

O ultrassom possui como principais vantagens ser um método não invasivo que permite a avaliação em tempo real do objeto a ser estudado, bem como não apresenta efeitos nocivos pois não usa radiação ionizante. Pode verificar o fluxo através do efeito doppler (que não será explicado no momento) e é padrão ouro para vísceras ocas (vesícula biliar). Em contrapartida precisa de um médico altamente especializado para executar o exame, que domine a técnica adequada e possua conhecimento adequado para interpretar o exame. Além do mais, existem limitações quanto a regiões a serem estudadas pelo ultrassom, apesar do seu custo ser baixo.


END

Informativo #1: Funcionamento do blog

Pensando nos já iniciantes, intermediários e aqueles que querem conhecer ainda mais a radiologia, planejo dividir as postagens em blocos de módulos (módulo básico, módulo intermediário e módulo avançado), descrevendo qual será o módulo da postagem já no título. 

Quais serão as principais vertentes que esse blog terá?

--> Postagem de blocos de módulo (básico, intermediário, avançado)
--> Casos clínicos (com posterior comentário do autor do blog sobre o caso)
--> Videoaulas

Qual a frequência de postagens?

R- A intenção do autor é atualizar três vezes por semana com novas postagens, porém, a depender da semana de provas, atividades extracurriculares, estágios, etc, essa frequência poderá cair. Espero compreensão.




sábado, 1 de março de 2014

Introdução à ultrassonografia

A ultrassonografia ou a ecografia é o estudo das imagens pelo eco. Ou seja, na ultrassonografia o mecanismo de formação das imagens é o som. Como assim? Como o som ou ondas sonoras poderiam gerar uma imagem radiológica em um monitor?

Lembrando-se da física básica precisamos saber o conceito de frequência para compreender o ultrassom, porém, antes disso, precisamos nos perguntar: como acontece a percepção das ondas sonoras? Em animais e nos seres humanos as vibrações timpânicas causadas por diferentes mudanças de pressão, ocasionadas por ondas mecânicas que se propagam pelo ar, é a forma pela qual nós percebemos o som.

Entretanto, não conseguimos perceber todos os sons, não é verdade? É aqui que a frequência nos auxilia. 

Existem diferenças fisiológicas do quanto cada animal consegue perceber de som ao seu redor. A frequência que a orelha humana consegue detectar varia de 20 a 20.000hz (hertz). Frequência pode ser descrita como uma grandeza que indica o número de ocorrências de um evento (ciclos, voltas, oscilações, etc) em um determinado intervalo de tempo. Traduzindo isso para o ouvido humano temos uma mudança cíclica de vibrações timpânicas. Sons que possuam frequência acima de 20.000HZ são chamados ultrassons.

Obviamente que além da frequência precisamos entender que o som se propaga em diferentes meios com diferentes velocidades. E por que é importante saber isso? É importante, pois nos faz entender o porquê da ultrassonografia não ser aplicada em determinadas regiões corporais ou o porquê dela não ser utilizada para certas abordagens. E por que o som se propaga com velocidades diferentes se mudarmos o meio em que o mesmo se encontra? por uma resistência que chamamos de impedância acústica. 

A impedância acústica pode ser traduzida como a resistência que algum meio oferece à passagem do som. De formas que, por exemplo, a velocidade do som é maior em meio líquido que no meio sólido. Por outro lado a velocidade do som no meio gasoso é maior que no meio líquido.

Depois de tantos conceitos físicos, onde conseguimos aplicar isso na radiologia?

Os aparelhos de ultrassom utilizam frequências variáveis através de objetos chamados de transdutores. Os transdutores são dispositivos que recebem algum tipo de sinal e o retransmite. No caso dos transdutores de ultrassonografia os mesmos possuem em sua extremidade cristais que possuem a capacidade de converter energia elétrica em energia sonora (ou mecânica) e vice-versa (também chamado de efeito piezoelétrico). Esses transdutores utilizam diferentes frequências, a depender de seu tipo. Porém, é válido ressaltar ao estudante de radiologia que quanto maior a frequência do transdutor maior será a definição das imagens mas menor a profundidade de penetração. Na prática isso quer dizer que podemos utilizar um transdutor com maior ou menor frequência a fim de alcançar alguma região corpórea ou algum órgão.Teremos que escolher sabiamente para adquirirmos imagens melhores e mais nítidas.




Principais transdutores utilizados (cada um com sua principal característica e com um uso principal para a aquisição de imagens. Na sua extremidade temos os cristais que fazem o efeito piezoelétrico)


Para realizarmos o exame ultrassonográfico precisamos utilizar um gel à base de água. Por que? porque precisamos que o transdutor deslize melhor e também esse gel favorece a retirada de uma mínima quantia de ar presente nos poros, dobras da pele, etc. Precisamos retirar essa interface "transdutor-ar-paciente" e ao colocarmos o transdutor em contato direto com a pele do paciente juntamente com esse gel, conseguimos transformar "transdutor-ar-paciente" em "transdutor-paciente", favorecendo a melhor aquisição das imagens e um melhor contato do transdutor com a região a ser estudada por ele. O ar ou gás não é um bom veículo condutor de ondas ultrassonoras. Isso é tão verdade que em exames de ultrassonografia abdominal precisamos de um período de jejum por parte do paciente, pois precisamos reduzir a quantidade de ar no intestino. Afinal de contas, precisamos que o ultrassom vá até a região anatômica desejada, bata naquela região e volte com um eco (parecido com um sonar) para aí então termos a formação plena da imagem. O ar/gás não permite que o som bata e retorne, dificultando a formação das imagens. O mesmo ocorre com o crânio. O osso não permite que o som tenha livre trânsito sonoro ("bate e volta"), de formas que o ultrassom não é um bom método radiológico para adquirir imagens a partir de componentes ósseos como o crânio (exceto em casos onde as fontanelas estejam abertas. É o que chamamos de ultrassom transfontanela, feito em criancinhas cujas fontanelas ainda não fecharam)





Compreendendo como o ultrassom funciona, precisamos ter uma nomenclatura para as imagens adquiridas, não é verdade? como dito no primeiro parágrafo do post, a ultrassonografia trabalha com sons ou eco, de maneira que as imagens adquiridas são imagens ecóicas (derivam do eco). Imagens brancas são denominadas hiperecóicas, imagens pretas são denominadas hipoecóicas e imagens com ecogenicidade semelhante são denominadas isoecóicas. 


Se você, leitor, reparar e comparar essa postagem com a postagem passada, as nomenclaturas são parecidas no quesito hipo e hiper das imagens 


(Tomografia - Hipodenso, isodenso, hiperdenso/ 
Ressonância - Hipointenso, isointenso e hiperintenso)/ 
Ultrassonografia - Hipoecóico, isoecóico e hiperecóico)


Imagem hipoecóica (linha branca)



Imagem hiperecoica (múltiplas microlesões ovaladas brilhantes localizadas na vesícula biliar)



END

Introdução à radiologia e nomenclatura radiológica

Aos que preferem assistir a videoaula sobre "Introdução à Radiologia", seguem os links da parte 1 e 2 dessa videoaula que fiz no meu canal do youtube

PARTE 1 - https://www.youtube.com/watch?v=6sXAmpXivzw
PARTE 2 - https://www.youtube.com/watch?v=Z4Swmvvs3pI

Ao nos depararmos com um exame de imagem sempre surge a dúvida: O que é que estamos vendo? Será uma infecção, neoplasia, cistos, inflamação, infiltração gordurosa, abscesso, uma má formação congênita, uma leucopatia? 

Pois bem... A radiologia possui uma gama de exames de imagem a sua disposição para que o caso seja elucidado, mas nem sempre o médico radiologista estará perito naquela área específica, o que pode dificultar o diagnóstico final. Por isso, vamos tentar compreender a partir de agora noções básicas de nomenclatura e introdução à radiologia. Esse post ficará restrito a uma introdução básica sobre os principais métodos de imagem e suas respectivas nomenclaturas.


A abordagem sistemática e mais apurada de cada uma delas será realizada posteriormente, nas postagens subsequentes.


Boa leitura!



Raios X

Inicialmente os famosos raios x. Quando pegamos uma radiografia de tórax, abdome, crânio, braços, pernas, ou o que quer que seja perceberemos que existem diferentes tons para representar os órgãos do corpo humano. São os chamados tons de cinza. Um raio X comum possui em torno de 25 tons de cinza para representar os órgãos, patologias e achados radiológicos, o que de certa maneira é bem pouco. Chamaremos didaticamente as estruturas brancas no raio X de estruturas RADIOPACAS e estruturas pretas de estruturas RADIOTRANSPARENTES. Então, se pararmos para ver a imagem abaixo, perceberemos que os ossos são brancos (radiopacos) e os pulmões são pretos (radiotransparentes).




Porém, iremos perceber também que nem todas as estruturas observadas possuem os mesmos tons extremos de cinza (extremamente radiopacas ou extremamente radiotransparentes), isso porque existem partes moles, vísceras, gordura, músculos, etc, que possuem características radiológicas variáveis. Para sistematizar essas estruturas, devemos ter em mente a seguinte ordem de opacidade de forma crescente: Pulmões, Gordura, Partes Moles e Osso. 

Observe a imagem abaixo


1= Ar/ 2 = Gordura celular/ 3 = Partes moles/ 4= Osso

Tomografia Computadorizada

Entrando na área da Tomografia Computadorizada temos uma quantia maior de tons de cinza, algo em torno de 250 tons. Porém, aqui, a convenção para nomenclaturas muda no sentido de que na tomografia trabalhamos com DENSIDADE. Hiperdenso para estruturas brancas, isodenso para estruturas que possuam densidade semelhante e hipodenso para estruturas pretas. É semelhante ao que estudamos agora pouco em raios X. O que era radiopaco no RX transforma-se em hiperdenso na tomografia e o que era radiotransparente no RX transforma-se em hipodenso na tomografia. Vale ressaltar que em alguns locais é possível ouvir hiperatenuação ou hipoatenuação. Hiperatenuação remete a imagens hiperdensas e hipoatenuação a imagens hipodensas. Basicamente a tomografia trabalha com janelas, dentre as principais podemos destacar: Janela óssea, Janela de partes moles, janela mediastinal e janela pulmonar. Obviamente cada uma delas remete a uma determinada região a ser estudada, não cabendo agora uma explicação plena e total de todas essas janelas, afinal estamos em uma aula de nomenclatura e introdução. Mas como poderei me guiar no que é hiperdenso, isodenso ou hipodenso? Simples. Há uma escala conhecida como escala de Hounsfield (UH), cuja qual categoriza a densidade de certas estruturas e lesões, auxiliando o estudante a compreender melhor os sinais emitidos por determinadas lesões ou estruturas anatômicas. Segue abaixo a imagem de escala de Hounsfield. A TC é mais rápida que a RM, porém, utiliza radiação, sendo, portanto, avaliada quanto a sua necessidade de uso. 


Escala de Hounsfield
TC em janela de partes moles (encéfalo visualizado)
TC em janela óssea (observe que os seios paranasais, que possuem ar em seu interior, se apresentam hipodensos na TC, comprovando assim a escala de densidade de hounsfield, bem como os processos mastoides)

Ressonância Magnética


A ressonância magnética surgiu como um grande avanço na radiologia, especialmente para determinadas áreas como a neurorradiologia. A RM consiste em um método mais caro que a tomografia computadorizada, porém, diferente dessa, não utiliza radiação, sendo assim mais seguro. Seu mecanismo de ação consiste nos movimentos (spins) dos íons hidrogênio (átomo em maior abundância em nosso corpo) através de pulsos magnéticos. A partir de tempos de repetição (TR) e tempos de eco (TE) podemos obter diferentes tipos de imagens as quais classificamos como ponderações. A nomenclatura também se altera. Ao invés de hiperdenso, isodenso e hipodenso teremos hiperINTENSO, isoINTENSO e hipoINTENSO. A grande vantagem da ressonância é o leque de ponderações e exames que a utilizam como base, bem como é um exame que pode ser executado em pacientes grávidas sem risco algum. O que precisamos tomar atenção é com pacientes que possuam próteses metálicas ou marcapassos, pois esses pacientes não são bons candidatos ao exame devido a emissão de pulsos magnéticos por parte da máquina de ressonância. Como avaliar o que vai ser hipo, iso ou hiperintenso na RM? Isso irá variar de acordo com a ponderação com a qual estaremos lidando. E como temos noção da ponderação que estamos observando? pelo tempo de repetição (TR) e o tempo de eco (TE), falados acima.

TR e TE baixo = Imagem ponderada em T1
TR e TE altos = Imagem ponderada em T2

E o que é T1 e T2? o que significa T1 e T2?

T1 e T2 significa dizer que as imagens estão sendo geradas e adquiridas por tempos de eco e repetição diferentes e alternados. E na prática o que isso aumenta em questão de vantagem? Aumenta que a depender desses tempos as imagens geradas possuem sinais diferentes. O que é hipointenso em T1 pode ser hiperintenso em T2 e vice-versa. Um exemplo claro e bem definido disso é a água, por exemplo. Em T1 a água exibe HIPOSINAL e em T2 a água exibe HIPERSINAL. Na prática quer dizer que imagens ponderadas em T1 exibem o líquor cefalorraquidiano com um sinal hipointenso e imagens ponderadas em T2 exibem o líquor cefalorraquidiano hiperintenso. Observe a imagem abaixo:


T1 a esquerda e T2 a direita (duas ponderações distintas, geradas a partir de TR e TE diferentes)

Se repararmos, a imagem a esquerda possui hipossinal para o líquor e a da direita possui hiperssinal para o líquor. Perceba que as imagens possuem diferenças entre si, não somente pelo sinal do líquor mas pelo sinal que a substância branca e cinzenta apresentam comparando-se as duas ponderações. Isso ocorre pela diferença nos tempos de eco e repetição das duas imagens.


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terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Piloto

A radiologia e seus tons de cinza é um blog criado e mantido por Marcelo Augusto Fonseca, monitor de radiologia, ex-monitor de bioquímica metabólica/fisiológica e patológica da Faculdade de Medicina Nova Esperança (FAMENE) e atual presidente da Liga Acadêmica de Diagnósticos da Paraíba (LADPB)

O blog tem o intuito de auxiliar estudantes da área da saúde, especialmente da medicina, a compreender de maneira rápida, simples e objetiva a radiologia básica de uma maneira geral. Aos já formados, está aqui uma oportunidade de relembrar patologias esquecidas, anatomofisiologia radiológica, semiologia radiológica e, por que não, testar a própria capacidade?

As postagens ocorrerão de maneira semanal, 3x por semana, não ficando obrigatória a divulgação dos dias cujas mesmas serão anexadas aqui.

Ligue o negatoscópio e bons estudos.